domingo, 12 de maio de 2013

Mãe...

Desejo o melhor pra minha mãe. Ela já sofreu muito, passou comigo por tempos difíceis. Que não sofra mais.

Que ela nunca sofra  a humilhação de ser enxotada de seu lar a cassetete, com o filho nos braços, a perguntar-se o que há de tão terrível e ameaçador em tentar prover um teto e dignidade de lar a suas crias.

Que ela jamais sofra a dor pungente de não saber por décadas a fio onde está o cadáver do filho ou filha, morto por pensar diferente daqueles que enxotam mães e filhos de seus lares. 

Que nunca tenha o terror de pensamentos e sonhos imaginando o sofrimento do filho ou filha, exposto a sevícias, mutilações e estupros nas mãos de covardes que não ousam sequer admitir tamanhas barbaridades.
Que nunca passe pelo baque de encontrar o cadáver de um filho dentre uma pilha, assassinado pelas mãos de quem é pago para manter a lei, a mesma lei que criou sua função pública, de garantir a ordem e a segurança física de todos os membros da sociedade.

Que nunca passe pelas agulhadas de dor ao ver seu filho faminto, doente, aumentadas por saber que no mesmo momento são gastos bilhões em espetáculos desportivos, milhões em visitas de líderes religiosos que nada mais fazem do que manter na confortável ignorância dessa situação milhões e milhões de outras mães que, de outra forma, se solidarizariam na maternidade e impediriam a existência dessa penúria.
Porque todas as mães sofrem pelos filhos. 
TODAS.

Que mãe alguma sofra. 
Nunca mais.






Dedico à Ivanir e à Karine. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nanoconto de GigaMenoscabo Formatado.


Vejo e ouço a idéia - pá! - se empilhando, da tela pras camadas de papel e tinta à frente. 
Quentinhas - na tela e papel, cheirinho típico exalado pelo tambor de secagem. Tal qual pão quentinho; fermento e toner, aquecer e reservar.
Olfato. Tato. Audição. Visão. Idéia. Ideais.

Como é que eu tenho a empáfia de chamá-la assim?
Devia ser é expressora.

(E um lugar em cima da mesa, no centro das atenções, pode ser qualquer coisa menos periférico. Eu, opressor?)



********


(Dedico à Andréia Pires, ao Paulo Olmedo e nossos Educandos do Paidéia. O despudor da escrita surgiu ontem :) )

domingo, 14 de abril de 2013

Zé Pequeno não se aposentou.

"Through constant pain disgrace the young boy learns their rules. With time the child draws in, this whipping boy done wrong - deprived of all his thoughts, the young man struggles on and on..."
(Metallica - The Unforgiven)  

Nas leituras de fim de domingo, me deparo com um ou dois conhecidos compartilhando aqueles banners do "assbook"* defendendo a redução da "maioridade" penal e dando até a sugestão de uma "Lei Vitor Hugo", em homenagem a mais uma dentre milhares de vítimas da violência.

Afinal de contas, é fácil pensar nos efeitos sem atacar as causas, menores podem ser explorados / estuprados / abandonados e blá blá blá. Milhões de argumentos estão aí pra desmontar esse raciocínio imbecil, de gente que joga numa criança ou adolescente a responsabilidade que os adultos de uma sociedade é que deviam empunhar. De tanto nojo que tenho dessa preguiça mental alheia, vou devolver na mesma moeda sem debater (por ora) esse tópico. **
No entanto, a outra ponta desse nó me interessa sobremaneira, e não lembro de ter visto ou lido qualquer repercussão. A notícia que reviveu esse raciocinio que traçarei aqui é a da possibilidade do livramento do Nicolau dos Santos Neto, o "Lalau", condenado por desviar milhões de reais de verbas para a reforma de prédios do poder judiciário. (Vão no google...tá?)
Pois bem...desde 2000, o hoje octogenário Nicolau alega em sua defesa que está com idade avançada e saúde frágil, portanto não poderia cumprir prisão em estabelecimento comum - portanto, pedindo o benefício da prisão domiciliar.
Porras, pera aí: prisão domiciliar? O sujeito, um nababo, vive num luxo de dar dó, graças ao dinheiro que desviou e ainda não devolveu, e "por razões de saúde" está fazendo cara de cachorrinho pidão pra não ir pro xilindró?
É amigo compartilhador da menoridade penal aos 6 16 anos...o que está muito carente de reforma no direito penal brasileiro é o outro extremo. Então pensa comigo:
- A expectativa de vida da população brasileira vem aumentando. Hoje, 74 anos (flutuando desde o ajudante de pedreiro que vai penar e morrer todo espendongado com bem menos do que isso, até os Nicolaus com direito a boa alimentação/ sono / trabalho não penoso / cuidados de saúde top de linha ) e tende a ir mais longe que isso.
- O Código Penal estabelece atenuante e suspensão da pena para maiores de 70 anos.
- Logo, teremos mais e mais criminosos com mais de 70 anos. E não pensem que serão punguistas ou estupradores, nessa idade...Tá aí o Nicolau pra indicar o caminho do que deve acontecer nesse sentido. 

Então o vosso raciocínio, caríssimo torquemada do fraldário, é:  mandar nossos adolescentes e crianças (que deveríamos tentar formar, tirar do crime, parar de joga-los na criminalidade direta ou indiretamente) em cana, e não dar bola pros veteranos escroques que passam décadas amealhando fortunas ilícitas ou pisoteando os direitos humanos ???

Parabéns. Se pensas assim, tu és um merda, prevalecido, capaz de encher uma criança a tapa e um cagão na hora de afrontar quem está tranquilo e aposentado às tuas custas. 

Espero que nenhum dos meus conhecidos vista essa carapuça.

Saludos!


* "Aqui" que vou fazer propaganda! Tchupa, "Suckerberg"!
** Recomendo - aí sim, com o merecido "merchand" - o Blog do Sakamoto
*** Sobre o título, vale lembrar ainda aos incautos que a caixa-preta dos poderes deste país inclui como punição a horrenda medida de aposentar a pessoa. Mundo injusto - ninguém me pune com isso :( 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O PORQUÊ.


"Ves el tiempo robarte otra vez el dia. Otro viaje sin rumbo va empezar..."   
(Rata Blanca - "Un dia más, un dia menos")


Há algum tempo pergunto a mim mesmo por quê raios ainda não entrei na era da internet como ferramenta de expressão - por quê eu ainda não tinha fomentado um blog. Quem me conhece pessoalmente sabe como venho tentando me desarraigar dos comodismos (físicos e mentais), postando de forma mais intensa nas redes sociais. Então, qual o motivo de não ter me arriscado a erigir um blog? 

Posso dizer que o medo de arriscar o pescoço é grande. Intelectualmente, cada um que lança opiniões ao cyberespaço está sujeito a uma carga de críticas que vão do ad hominem a razias argumentativas. E eu prezo muito a capacidade de encontrar debatedores que possam me pôr no meu devido lugar: de um ignorante de si próprio e de toda essa teia de irrazão chamada sociedade. 
Além disso, vêm se acirrando as tendências de judicialização censora (ou censura judicial *) - e ninguém é bobo o bastante aqui para querer jogar fora horas de prazer e lazer (e os recursos pra isso) no colo de advogados e do aparato do contencioso. 
Esses eram meus medos.
Não sou uma pessoa de conquistar pelo elogio **; e, se bem que não tencione arrumar inimizades (ou arruinar amizades) pela crítica, mais e mais venho me incomodando com as bobagens que ando ouvindo e lendo de pessoas próximas.
Pessoas são complexas. Testar os limites de sua compreensão é um hobby perigoso, pois não há tato e cautela que prevejam uma rompante de cólera por uma crítica, ainda que bem fundamentada. O ser humano também é vaidoso, orgulhoso, às vezes soberbo; e não é qualquer um que divorcia a sua personalidade de uma crítica às suas idéias. 
Em miúdos: é muito comum "tomar as dores", interpretar como afronta e ataque pessoal o que devia ser uma tese ou um arrazoado sobre a opinião.
Mas chegou a hora em que venci o melindre. Superei o receio. Isso foi quando me dei conta de que eu não podia mais agüentar calado algumas bobagens, calcadas em um senso comum desprovido de razão, que em tempos de internet são propagadas como fofoca de cortiço. 
Quando topei com as redes sociais, encarei como mais um passatempo cibernético e espaço de confraternização virtual, assim como havia sido o Irc ***. Passando o tempo, fui me dando conta que o que eu chamava de "Teoria do Cyberconfessionário" **** foi evoluindo para um afrouxamento do pundonor em verbalizar o pensamento. Línguas e dedos foram ficando ferinos; opiniões - especialmente as idiotas - foram sendo externadas e propagadas sem o mesmo receio que ora venço, de encarar o interlocutor, e, logicamente, sua contra-argumentação.
Esse período confluiu com algumas experiências pessoais que foram burilando parte do meu comportamento e minha visão de mundo e humanidade. Egresso de um curso de Direito, ingressei num de História; de "tecnólogo em processo e procedimento", fui passando paulatinamente a crítico de mim mesmo, de meus valores, e - construído que sou pelo que me circunda - da sociedade em que estou e de seu ethos
Fui travando contato íntimo com as mutações sociais, os mecanismos de poder e de opressão, as lutas, os refluxos...e com a Educação (maiúsculas, sempre). Alguns pensamentos foram se concatenando. Algumas respostas surgindo. E o que era mera revolta sobre os efeitos, tornou-se a denúncia das causas.
Assim, decidi aos poucos passar a ativo no processo de reversão de alguns mecanismos cruéis que ainda reduzem a humanidade a escrava de poucos, e de seus interesses*****. 
Primeiro timidamente...admoestando...indicando...às vezes, ignorando e depois conversando sobre algum ponto tangente do assunto.
Mas com o tempo, ficou insuportável ouvir, ver e ler calado tanta asneira em pleno século XXI. 
"Na era da informação, ignorância é uma escolha". Desconheço o autor desse brocardo, mas é genial. E sintetiza meu sentimento diante das asnices de internet e seus arautos. Alguns (muitos!) deles tendo formação acadêmica, nível superior. DIPLOMA!
A indignação supera a timidez. E agora não basta apenas corrigir.
Isso tem de ser feito AOS BERROS.
Porque não gritar nessas situações escrotas de gente que deveria usar seu cérebro para ao menos criticar (pra si mesmo) aquilo que voa pra replicar no espaço virtual, equivale a calar-se.
E o nazi-fascismo nutriu-se de silêncios. De consentimentos que viraram consenso. 
Inquisições nutriram-se de silêncios.
Ditaduras. 
Macarthismos.

Algo muito fétido paira no ar quando paramos para pensar sobre o volume de informação disponível no mar do cyberespaço, e a baixa qualidade de sua grande parte. Quando só havia bibliotecas de papel para sanar as dúvidas, éramos ****** forçados a ter em mente o tempo todo o que estávamos buscando, e o espectro do assunto.
Hoje, o google abrevia essa etapa. E há o poder de relativizar a fonte que nos informa. Assim, o boato, o hoax toma dimensões goebbelianas de verdade, quando repetida não mil, mas milhão de vezes.

Não me basta falar.
Tenho de berrar.

POR ISSO ESSE BLOG SERÁ AOS BERROS, QUANDO SE DEPARAR COM ALGUMA BOBAGEM A SER DESMONTADA OU DESMASCARADA.

Espero que vocês tenham ouvidos resistentes.


Respondido? :)




Saludos, 

Lizandro.





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* Lembrei das aulas de Direito Constitucional do prof. Péricles Gonçalves, ao falar de "República Federativa" - comparando a uma "cadeira madeirada" ou uma "porta maçanetada". 
** Elogio gratuito é a ante-sala (ou antessala???) da bajulação. E eu não simpatizo com puxa-sacos...
*** Internet Relay Chat - das primeiras ferramentas para bate-papo na internet, com salas e conversas privadas. Saudoso canal #riogrande...
**** Num espaço virtual, sem o contato de olhos nos olhos, sem os freios simbólicos de tonalidade de voz, gestual, vestimenta, odores, e outros indicativos de intenção da linguagem, o que eu notava no Irc era um afrouxamento da contenção comunicativa. Ou seja: era quase como se a pessoa estivesse num confessionário de igreja; conhecendo-desconhecendo o confessor, abria-se, externava, despudorava-se. Rompia seus isolamentos de comunicação.
***** Do latim inter est, "o que está entre". Aquilo que é barreira entre duas pessoas. Ou que as coliga. Separa e diverge. (Ah, o latim e o grego...muito ver-me-ão citá-los cá.)
****** Sim, vivi estes tempos, de buscar uma referência (enciclopédia ou dicionário), depois catar livros em estantes, buscar o capítulo ou tema, ler, interpretar, absorver, filtrar, utilizar a informação. Isso foi um treinamento e tanto. Obrigado, mãe!

Imagem do post: deviantart.net